terça-feira, 27 de julho de 2010


Há amor, e há O amor. Há pessoas, e há A Pessoa. Há o mundo, e há 'Tu'. Por tantas vezes me perdi entre amores e desamores, entre coisas que tinha presas entre as minhas mãos. Consolidadas numa segurança precária, que no fim sempre perdi.
Mas tu persististe, entre ventos que me arrastavam e arrancavam as raízes que me prendiam ao lugar que julgava ser meu, aquela terra cheia de coisa nenhuma que me alimentava um coração vazio, quando o que eu achava essencial se soltava ao vento, e eu ficava colada na imagem de um vulto a desfazer-se na paisagem.
Foram homens, foram braços que me agarravam á força de ilusões de sonhos divergentes, monocromáticos. Foram olhos e olhares cegos, surdez parcial, inercia de palavras, porque eu não acreditava nas coisas que tão bem sabia. Mas todos eles passaram, feriram, e cicatrizaram, e mais uma vez tu ali.
Não sei ao certo quanto tempo desperdicei a olhar para o minha parede das lamentações, o meu mundinho fechado, o meu ego deprimido vestido de cores escuras. A verdade é que só agora vejo com clareza o chão que piso, só agora vejo que o meu reflexo é a tua sombra, que os meus pés me levem sempre a ti.
Agora vejo e sei que se fechar os olhos e me perder na imensidão da incompreensão, ainda assim vou-te saber de cor.
Se te largar a mão e perder a sensibilidade da pele, ainda assim me lembrarei do teu toque. E se o mundo de súbito se fechar no silencio absoluto, será a tua voz a musica dos meus sentidos. Porque estas em mim para lá daquilo que qualquer outro homem já esteve.
Porque és eu, mais do que aquilo que alguém possa perceber. Porque se me olharem bem fundo és tu que vão ver, um reflexo brilhante e um coração repleto de ti.
Porque o amor não é feito de géneros diferentes, porque a nossa natureza pode ter-nos criado semelhantes, e a sociedade restringir-nos á amizade. Mas nunca fui de seguir as massas.
Então para mim amo-te, no sentido literal da palavra. Amo-te quando estas e quando não estas, ao alcance da minha mão. Amo-te quando cidades nos separam, e quando o tempo nos reúne. Amo-te quando não me contas , mas eu sei. Amo-te quando não o falo, mas adivinhas.
Amo saber que me amas também. Amo saber que sabes que és mais do que os outros te acham. Minha melhor amiga?
Amor da minha vida!

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Dreamland


Procuro o fim do raciocinio no arrastar lento de uma cadeira. E enquanto a cinza do cigarro continua a cair no cinzeiro da sala, repousa agora a tua pele de seda sobre a cama.

Pediste-me que nao te deixasse passar o frio da noite na estranha solidão que se apodera das sombras do quarto, quando o meu corpo não é o teu colchão.
E eu fiquei.
Docemente pousei os meus labios no lobolo da tua orelha, e sussurrei-te um 'para sempre'. Dormias profundamente, mas ainda assim sorriste, e eu sob o brilho timido da tua plena expressao entreguei-me ao sono, que me envolveu como chamas devastadoras num abraço abrasador, sem queimaduras permanentes.
Aconcheguei-me no nosso sonho, e ali fiquei, pelas longas horas da ausencia da claridade pelas persianas da janela.


O dia nasce, finda o meu sono de sonhos brandos e calmos. Procuro a minha roupa espalhada pela casa, e visto-a como quem poe uma corda ao pescoço. A vida la fora chama-me como uma estridente campainha que nao posso nem ignorar nem aceitar. Mas tenho de ir. Permito-me ainda entrar, de saltos presos nos dedos da mao, no quarto onde me entreguei á felicidade. Ainda dormias. perguntei-me se quando acordasses nao te convencerias que tudo nao tinha passado de um sonho.
Talvez.

Incendiou-se o desejo do ultimo beijo, chamar por ti. Bastava um sussurro. -'nao me deixes ir'- pensei, mas nao o disse. E assim fui embora.
Atras de mim, como marca da minha presença, ficou um cigarro ardido largado no cinzeiro da sala, e uma cadeira desprevenida arrastada para longe do seu lugar na mesa.

Porque sou o sonho que te visita todas as noites, a ilusão que te envolve em sonos profundos. E porque sempre saberás que mesmo que o dia não me mostre á luz dos teus olhos, a noite me levará a ti, sem que nenhum de nós os dois perceba que é real.