domingo, 20 de junho de 2010

"Historias na face da lua"


O fim chegou certeiro com a flecha do destino. Cravou-se tão fundo em nos que no impacto cruel da verdade perdemos o pé da razão e ficamos a pairar como balões a ficar vazios de si. Tanto foi o tempo em que o amor brilhava que agora me aprece tão pouco quando olho para trás e permito-me vislumbra-lo lá ao fundo, perdido nas paginas que ficaram atrás das que agora estão amarrotadas pela insistência de as fazer passar mais depressa que o movimento da luz. Um amor incomum escondido timidamente num dos capítulos mais expressivos das nossas vidas. Historias escritas na lua, sorrisos cúmplices que viajavam entre nos, por vezes, sim, irreal.
(…)
Porque desgostamos tudo o que o amor nos podia dar. Sensações, emoções. Lágrimas agridoces, que mancharam a pele, que criaram uma outra alma, uma outra forma de haver proximidade na distância, sem a necessidade de pontes a juntar margens, voávamos para os braços um do outro ao mais leve sinal de um pedido. Os nossos corações amaram-se embora os nossos corpos de facto nunca o tenham sentido. Então que importa distribuir culpas como quem da as cartas de um baralho? O fim é um beco de dois sentidos, uma estrada que diverge a partir do centro, que nos leva e direcções opostas, que nos afasta á força de um elástico que nos recolhe ao vazio, que nos separa ao capricho das garras do estar um sem o outro. Mas se a historia acabou, e as datas previstas já não vão chegar, então que o façamos ser rápido e indolor á aparência, sem pretensões de cair no espaço solene do ultimo restante ponto final. Mesmo que as noites escuras nos tragam conforto á ausência que sentimos no peito, e adormecer possa ser apenas a restante maneira de dar vida ao nosso morto amor, deixar-nos-emos sonhar livres e juntos aquilo que condenamos ao fracasso neste dia.
(…)
Vou antes fingir que aceito, fingir que não me importo que o vento te leve, que a agua te molhe a essência e que dilua o sal do mar. Apenas quero que saibas que não te culpo nem de pouco nem de coisa alguma, que não guardo raiva ou rancor, que não vou passar na linha fina do amor-odio para o lado errado da margem, que não vou simplesmente cobrar promessas ou fazer pedidos de futuro. E guardando a ultima réstia de dignidade que assim me sobrou, dizer adeus, sem deixar que os meus braços pendam inertes ao foco dos teus olhos, e deixar que assim vire distante a real distancia dos kms que nos separam, dos palmos de estradas que nos afastam, mesmo que estejam ligadas entre si. E vou agora, sem tantas mais coisas impossíveis de mostrar aos olhos ou de expor as palavras, sem tantas datas de uma vida planeada á luz de um momento fugaz de conto de fada.
31 de Agosto de 2009. 14 de Setembro de 2009. 18 de Junho de 2010.18 de Julho de 2010. 14 de Setembro de 2010… 14 de Maio de 2011. Passado. Presente. Futuro. E nunca vou esquecer que me amas-te...
...um dia

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Supernova

' Uma supernova possui todos os elementos da tabela periódica, consequentemente tanto pode extinguir, como gerar vida'


A lua eclipsou-se no céu. O mar garganteia engolir quem se acercar do seu âmago. A areia bate-me na cara com o alento do vento que sei ser o bater das asas de uma borboleta. Decai uma gota de água absorta sobre o meu olho esquerdo, pende-me das pestanas para o rosto, como uma lágrima do céu. Dizem que esta noite vai chover. Não me importo.
Deito-me na areia húmida como se o frio não me arrepiasse a pele, e penso. Não teria a vida mais sentido se contabilizássemos o tempo por sorrisos? Se 60 sorrisos formassem uma hora. Preferia chegar ao fim da vida depois de horas no cronometro da felicidade, do que anos a conta-gotas na busca de um de conhecimento que nos eleve o espírito e nos converta em algo mais para alem de reprodutores biológicos.
E fosse amor só um piscar de olhos, uma permuta de olhares que se prendesse num só segundo, também num sorriso, sem mais teatros que lhe dispusessem a antever entraves mesmo antes de os lábios fazerem tenções de se rasgar em alegria. E fingindo que os sonhos de infância não procuravam em vão a meta do ‘quando eu for grande’, por não haver realização na idade adulta, e ficar assim a sonhar sonhos de palmo com desfecho para breve. Pelo menos assim seria mais fácil para mim lutar contra o cansaço que me tolda a visão e que desfoca a silhueta do mar, mas estrelas esmorecem e escondem-se sob aquele raio forte que aclara o céu e me arrebata as fantasias. Vai amanhecer, e eu por fim adormeço.