domingo, 31 de janeiro de 2010

'Teimosia vs Encanto'


São também de amor as nossas histórias. São também notas sem cor nos dedos que fluem como a noite nas teclas aladas de um piano. São linhas circunflexas que volteiam na trama e descrevem as nossas horas inquietas como forma de amaciar o desejo. São a falta de pontuação em frases que não queremos acabar, parar, travar apenas para traçar a vida de olhares ainda apaixonados quando nos regemos de um presente-passado que não passa. Aliamo-nos pela precariedade de um futuro que nos traz uma mão cheia de dias incertos, dias de amantes distantes, amigos enamorados, ou outra qualquer mistura de sentimentos que nem para nos sabemos explicar. Enquanto se repetem as promessas mudas implícitas nos momentos chaves dos meses que pressentimos, selamos as juras boca á boca com as letras soltas que fogem de frases que nos marcaram, e aqui e ali completam o sentido dos suspiros arrancados pelas saudades eternas do que não pode ser esquecido. E os segredos continuam a permanecer assim, escondidos de todos e de nos, sem nos atrevermos a mergulhar fundo numa morfina capital de tantas lembranças, de tantas outros fins que inventamos para a nossa historia. Seguimos assim, de mãos fragilmente dadas, sem nos pertencermos, sem nos afastar-mos, sem nos darmos mais á neblina que embacia este vidro á prova de bala que nos separa, que nos leva para um longe por vezes tão perto, por vezes tão claro, que pelas mesma vezes parece que parte sobre vontades de um mar que serpenteia quando nele caem lágrimas de mel dourado. E continua assim a viagem de longo curso sem saída, onde os tronos onde nos sentamos sentenciam a nossa queda ou a nossa glória, apenas por termos ousado sentir o inesperado, o que prematuro marcou mais do que anos de história. Sem fim á vista ou algum porto seguro de areias brancas para dar outro sentido á viagem, resta-nos ir ao sabor da maré, enquanto outra estrela não te ofuscar, ou outra paixão não me roubar ao azul do teu céu.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Fim da linha.


O vento não sopra igual. A brisa que me bate na cara faz um contraste com as rajadas tempestuosas que se soltam do céu revolto e fustigam as árvores a minha volta.
Contudo em mim mal chega a fazer ondular o cabelo descuidadamente pousado sobre o ombro esquerdo. Talvez a tempestade esteja em mim.
Talvez o céu seja o reflexo da minha alma atormentada, ou apenas uma projecção do meu estado de espírito.
Também a noite sabe que um final se aproxima, a' velocidade de dois pés vacilantes e dois braços inertes, rendidos.
Não sigo com rumo traçado embora saiba onde ir. Os pensamentos ocorrem-me sobre a forma de memórias a uma velocidade estonteante que me deixa ligeiramente zonza.

Imagens passadas, as mais antigas que a minha mente alcança, balançam-se agora risonhas pelos fios da memória. Brincadeiras de criança, sorrisos de inocência.
Chuvas de cor em terras de encantar. Recordações felizes em tempos fáceis de viver. Agora memorias de outros tempos, não tão distantes, mas que a muito julgava e desejava ter esquecido pelos vales do sofrimento. Apertos no coração.
Dores constantes, perdas povoadas de terrores. Medos escondidos pelo meio dos maus momentos, que se tornavam horas, dias, tempos eternos que insistiam em não passar. Mas que passaram. E lentamente lá se foi vivendo.
As últimas memorias são diferentes. São o presente. Por isso mais dolorosas talvez. são rostos que tanto amo e amei, os bons momentos que passei, a serem me levados pela cortina preta que agora me cobre os olhos. Poucas coisas já justificam este passar de dias martirizante, quando sinto que já não tenho nada de novo a acrescentar ao mundo. Quando me sinto consumida por uma dor que não vem de fora mas vem de mim. Como posso lutar com os mesmos braços que me querem sufocar? Como venço um coração que bate só para me lembrar que vai deixar de bater? Como posso ignorar a desilusão, quando esta em mim? Não posso fugir de quem eu sou e continuar a viver. Viver pelo que? Viver porque sim??
(...) dou o ultimo passo. Sem haver pressas, quero que seja rápido. Tão rápido como cheguei ao mundo. Tão fácil como fechar os olhos e adormecer. Tão fácil como parece o bater das ondas lá em baixo. Talvez se não houver um corpo para chorar eu possa ser para sempre apenas a menina pequenina que todos viram crescer, aquela que tantos abraçaram, a menina sorridente das fotografias, a dos risos e gargalhadas, possa ate deixar saudades talvez. Quem sabe. Eu vou sentir saudades.
Caminho para o vazio. Sinto-me a ser puxada pela liberdade, uma fuga apressada as amarras do mundo. E no segundo que me parece ser o ultimo, vejo o voo de uma gaivota no céu.
Sorrio.
Para mim aquele voo ia ser eterno.



"Porque no fim da linha nada mais importa. Porque o fim é facil. Porque o fim é apenas isso.. o fim"