domingo, 3 de janeiro de 2010

Fim da linha.


O vento não sopra igual. A brisa que me bate na cara faz um contraste com as rajadas tempestuosas que se soltam do céu revolto e fustigam as árvores a minha volta.
Contudo em mim mal chega a fazer ondular o cabelo descuidadamente pousado sobre o ombro esquerdo. Talvez a tempestade esteja em mim.
Talvez o céu seja o reflexo da minha alma atormentada, ou apenas uma projecção do meu estado de espírito.
Também a noite sabe que um final se aproxima, a' velocidade de dois pés vacilantes e dois braços inertes, rendidos.
Não sigo com rumo traçado embora saiba onde ir. Os pensamentos ocorrem-me sobre a forma de memórias a uma velocidade estonteante que me deixa ligeiramente zonza.

Imagens passadas, as mais antigas que a minha mente alcança, balançam-se agora risonhas pelos fios da memória. Brincadeiras de criança, sorrisos de inocência.
Chuvas de cor em terras de encantar. Recordações felizes em tempos fáceis de viver. Agora memorias de outros tempos, não tão distantes, mas que a muito julgava e desejava ter esquecido pelos vales do sofrimento. Apertos no coração.
Dores constantes, perdas povoadas de terrores. Medos escondidos pelo meio dos maus momentos, que se tornavam horas, dias, tempos eternos que insistiam em não passar. Mas que passaram. E lentamente lá se foi vivendo.
As últimas memorias são diferentes. São o presente. Por isso mais dolorosas talvez. são rostos que tanto amo e amei, os bons momentos que passei, a serem me levados pela cortina preta que agora me cobre os olhos. Poucas coisas já justificam este passar de dias martirizante, quando sinto que já não tenho nada de novo a acrescentar ao mundo. Quando me sinto consumida por uma dor que não vem de fora mas vem de mim. Como posso lutar com os mesmos braços que me querem sufocar? Como venço um coração que bate só para me lembrar que vai deixar de bater? Como posso ignorar a desilusão, quando esta em mim? Não posso fugir de quem eu sou e continuar a viver. Viver pelo que? Viver porque sim??
(...) dou o ultimo passo. Sem haver pressas, quero que seja rápido. Tão rápido como cheguei ao mundo. Tão fácil como fechar os olhos e adormecer. Tão fácil como parece o bater das ondas lá em baixo. Talvez se não houver um corpo para chorar eu possa ser para sempre apenas a menina pequenina que todos viram crescer, aquela que tantos abraçaram, a menina sorridente das fotografias, a dos risos e gargalhadas, possa ate deixar saudades talvez. Quem sabe. Eu vou sentir saudades.
Caminho para o vazio. Sinto-me a ser puxada pela liberdade, uma fuga apressada as amarras do mundo. E no segundo que me parece ser o ultimo, vejo o voo de uma gaivota no céu.
Sorrio.
Para mim aquele voo ia ser eterno.



"Porque no fim da linha nada mais importa. Porque o fim é facil. Porque o fim é apenas isso.. o fim"

8 comentários:

  1. obrigado :)

    adorei a maneira como escreves

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  2. "Porque no fim da linha nada mais importa. Porque o fim é facil. Porque o fim é apenas isso.. o fim", mesmo bonito este teu texto..
    Essa pequena vela já esta asessa a um bom tempo :)
    Beijinho

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  3. Eu prometo sim =) Ela nao se vai apagar
    Beijinho

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  4. A musica que nos diz muito, sem duvida :')

    Esse texto .. Hum (:

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  5. Gosto tanto do que escreves. Da maneira como o fazes e tudo o que transmites com a tua escrita :) Consigo ver-me aí algures por esse texto. Partilho de algumas sensações, de alguns sentimentos e pensamentos...

    Diz-se que tudo o que começa, tem necessariamente um fim. Eu não sei bem, ainda não pensei nisso como deve ser. Mas por enquanto gosto de achar que não tem que ser necessariamente assim!

    Beijinho*

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  6. Obrigada pela sua visita, espero poder contar mais vezes com ela.

    Gostei da maneira como vc escreve e como se expressa.

    beijooo.

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  7. O troar do trovão, esta incessante chuva
    As estrelas choram todas as mágoas na terra
    Onde param os Anjos, porque não nos acodem os Santos
    O mal e o bem porfiam esta eterna guerra

    As casas do sul ruiram todas
    Tal como a esperança desesperada
    Toquei no rosto de uma criança triste
    Senti uma paz surgir do nada


    Mágico beijo

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  8. começar é fácil. acabar é mais complicado.

    obrigado pelo teu comentário. gosto mesmo daquele poema. prometo passar aqui com mais tempo, porque merece uma visita cuidada, este teu cantinho.

    bj

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